Com John Cusack, 'Utopia' mostra teoria da conspiração por trás de vírus que domina o mundo

30.10.2020 | 16h50 - Atualizada em: 30.10.2020 | 17h09
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Por Folhapress
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Vírus misterioso se espalha pelo mundo e provoca uma corrida global pela vacina. Até aí, a trama da série "Utopia", que estreia nesta sexta-feira (30) na Amazon Prime Video, é bastante parecida com o que está acontecendo desde que a pandemia do novo coronavírus se alastrou pelo mundo.

Gravada em 2019 e baseada na série britânica homônima criada por Dennis Kelly, que virou cult, a nova versão foi adaptada por Gillian Flynn (do livro e do filme "Garota Exemplar", e da série "Sharp Objects") e terá oito episódios. E conta com outros elementos que a diferenciam da realidade.

Na trama, um grupo de nerds acredita piamente que tudo o que está ocorrendo já foi previsto nas páginas de uma série de HQs ("Distopia" e sua continuação "Utopia"), protagonizada por Jessica Hyde (Sasha Lane), uma garota que cresceu sem os pais e que luta contra uma organização que seria responsável por espalhar um vírus misterioso de forma proposital. Tudo seria fruto, então, de uma grande teoria da conspiração.

O ator Rainn Wilson (o Dwight Schrute da versão americana de "The Office") interpreta Michael Stearns, um cientista frustrado por ter poucos recursos para suas pesquisas. Ele acaba sendo uma peça-chave quando o vírus aparece, já que é sua área de estudo.

"'Utopia' espelha o mundo contemporâneo e especialmente a América contemporânea de muitas maneiras nesta pandemia", diz Wilson, em bate-papo com a imprensa internacional, do qual o F5 participou. "Você tem todos esses cientistas subfinanciados em instituições de pesquisa que poderiam ter feito um trabalho realmente valioso se tivessem os recursos, mas a única maneira de obter financiamento real nos Estados Unidos é por grandes empresas farmacêuticas."

O ator se diz surpreso com as coincidências que ocorreram após eles terminarem de rodar. "Quando percebemos o que estava acontecendo em todo o mundo, percebemos como os paralelos com a série são absolutamente insanos."

Ele também comenta a coincidência de estar novamente em uma adaptação de um sucesso britânico. "Tenho alguma experiência em refazer programas do Reino Unido", diz. "Com 'The Office', pegamos emprestado todas as melhores partes e a dinâmica maravilhosa que Ricky Gervais criou e depois tentamos fazer uma série que sabíamos que o público americano ia gostar."

Desta vez, ele diz que não procurou inspiração na versão original. "Eu não vi a versão do Reino Unido e não queria ser influenciado por ela, mas sei que Gillian Flynn realmente a reimaginou e reinventou", comenta.

John Cusack, que interpreta um grande empresário, Kevin Christie, que se mostra interessado em produzir uma vacina, conta que tentou construir seu personagem pensando na figura dos ricaços filantropos envolvidos em temas ambientais. "Você pode escolher os bilionários ocidentais que dizem a todos, todos os dias, como eles são benevolentes", compara. "Há valor em um cara que, na verdade, não está apenas ganhando dinheiro, mas trabalhando para tentar criar uma alternativa."

O ator também opina sobre as teorias da conspiração e diz que elas são baseadas na desconfiança que as pessoas têm de quem estar no poder. Segundo ele, a que mais o preocupa nos dias atuais é a de que somos controlados pelas redes sociais.

"As empresas de mídia social, que são realmente empresas de mineração de dados mascarando empresas de mídia social, usam algoritmos para jogar com os medos e preconceito das pessoas e a espalhar desinformação rapidamente", lamenta.

Mais adepto do cinema, ele afirma ainda que aceitou o convite para participar da série por ser fã de Gillian Flynn. "Fiquei muito animado ao receber a ligação dela", afirma. "Quando eu comecei a ler os roteiros, não consegui parar o dia todo, acabei todos em um dia porque eles eram muito bem escritos. Soube depois de os três primeiros episódios que eu ia aceitar."

Já Sasha Lane, que interpreta a versão em pele e osso de Jessica Hyde, conta que se inspirou numa gata selvagem para interpretar a personagem. "Ela realmente não sabe como interagir com outras pessoas, não sabe como ser sociável e nem quer ser", diz. "Ela é rude e você começa a entender que há uma razão para ela se comportar daquela maneira, de forma que você não a odeia tanto (risos)."

"É incrível sentir que não há nada nela que pareça fraco e quando surge qualquer vestígio de fraqueza é como se essa vulnerabilidade pressionasse", avalia. "Ela é uma heroína à sua própria maneira, mesmo sem tentar ser, o que eu acho muito identificável."

Ela também diz que foi bom interpretar alguém tão segura de si. "Alguns dias eu não me sentia essa segurança toda, mas você finge que tem até que, de repente, você começa a agir como se tivesse", ri. "Gostaria de poder dizer que estava na academia sete dias por semana para fazer as cenas de ação, mas na verdade só estava lá no set todos os dias, então basicamente você usa a sua memória muscular."

'GOONIES' Já os atores Ashleigh LaThrop, Dan Byrd, Desmin Borges e Jessica Rothe dão vida ao grupo de nerds que faz de tudo para encontrar as páginas perdidas de "Utopia" para descobrir como podem enfrentar tudo o que está acontecendo ao redor deles.

"Nós somos totalmente os Goonies", compara Rothe, que vive a intrépida Sam. "Somos aquele grupo de crianças que se intromete um pouco, mas realmente se torna um grupo de heróis improváveis." Em "Os Goonies" (1958), um grupo de garotos pré-adolescentes descobre um mapa do tesouro escondido que os leva por passagens secretas e armadilhas até um antigo navio pirata.

Já Borges, que interpreta o amalucado Wilson Wilson, diz que seu personagem já é fã das teorias da conspiração, mas fica ainda mais lunático a partir dos acontecimentos da série. "Ele perde a noção da realidade a partir do que vai acontecendo", afirma.

Lathrop, por sua vez, interpreta a maternal Becky, que ela diz ter "um otimismo eterno". "Ela é aquela pessoa que quer cuidar de todo mundo e ter certeza de que todos estão bem", adianta. "Até mesmo na situação mais horrível, ela tenta ver o lado positivo das coisas."

Por fim, Byrd vive Ian, o cético do grupo. "Foi muito fácil canalizar um nível saudável de ceticismo porque é assim que sou na minha vida", revela. Mesmo teorias da conspiração sendo fáceis de comprar por terem narrativas embaladas de forma atrativa, ele diz que é preciso censo crítico para não cair em ciladas.

"É preciso questionar as coisas e ser um pensador independente, e não apenas processar o que quer que seja dito para você", aconselha. "É saudável e também é natural para um ser humano querer fazer perguntas e chegar às suas próprias conclusões."

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