Drama brasiliense "Marés" aborda o alcoolismo por uma ótica sem estigmas

18.09.2019 | 15h20
Anna Rios
Por Anna Rios
Lourinelson Vladmir e Julieta Zarza são casal afetado pela bebida em “Marés”

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Mundo Itapema

Filme tem como pano de fundo a Brasília de 2016, em meio à movimentação do impeachment da presidenta Dilma Rousseff

Por GaúchaZH

Propondo uma ótica não estigmatizada do alcoolismo, em meio à ebulição política do Brasil, o drama brasiliense Marés está em cartaz em Porto Alegre. É a estreia do cineasta João Paulo Procópio na direção, que também assina o roteiro. Sócio-diretor da Pavirada Filmes, ele já atuou como produtor, roteirista e montador. 

Marés retrata a história de Valdo Gomes (Lourinelson Vladmir), fotógrafo bem sucedido, que é casado com a argentina Clara (Julieta Zarza). Eles têm uma rotina embriagada de felicidade: muito amor e música alta. E álcool. Depois que os dois têm uma filha, Valdo não consegue se controlar e passa a beber cada vez mais. Ao poucos, vai se deteriorando, assim como sua relação com Clara. O divórcio ocorre e, como condição para ver sua filha, Valdo precisa frequentar os Alcoólicos Anônimos. No entanto, o fotógrafo inicia um período com muito mais baixos do que altos.

– Queríamos que a construção do Lourinelson para o Valdo fosse o tipo de alcoólatra passivo, que dá oportunidade de uma nova chance de redenção. Se a gente fosse para esse alcoólatra mais violento, mais relapso, seria muito fácil a Clara desistir dele. Ele é um bom pai, é um bom profissional, é talentoso. Mas o álcool está na rotina dele – explica Procópio.

O diretor conta que se inspirou em histórias de sua família envolvendo alcoólatras para elaborar o roteiro do longa.

– Percebi que, dependendo de quem contasse a história, ou era muito hilária ou era bastante melancólica. Dependia de quem contava: se eram os companheiros de copo ou os familiares. No segundo caso, eram sempre histórias de perda – relata o Procópio.

Para pesquisar sobre o tema, o cineasta começou a frequentar reuniões dos Alcoólicos Anônimos. Os frequentadores, segundo ele, têm a jornada perfeita do herói clássico, na qual um problema precisa ser superado:

– O alcoólatra é o herói e é o problema ao mesmo tempo. 

Consequências

De acordo com Procópio, a construção de Marés partiu do desafio de retratar um alcoólatra fugindo do que é estigmatizado em torno do alcoolismo. O filme trabalha mais com as causas e consequências do alcoolismo.

– Fechamos mais nas cenas de ansiedade que o levam a beber, além das consequências, a ressaca moral e física. O alcoólatra é sempre visto como um pária. É difícil para as pessoas, que não estão ali no dia a dia, se convencerem de que nenhum deles quer acordar na sarjeta – analisa.

O alcoolismo de Valdo tem como pano de fundo a Brasília de 2016, em meio à movimentação do impeachment da presidenta Dilma Rousseff, o que aumenta a ansiedade do fotógrafo esquerdista em meio aos seus problemas particulares.

– Tenho uma perspectiva que o filme dialoga como um momento histórico, mas retrata um período do Brasil recente em que a gente ficou um pouco anestesiado e cambaleante nas nossas convicções e decisões – avalia o diretor.

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