ENTREVISTA: Kazu Makino, do Blonde Redhead, conta sobre o novo disco

30.09.2023 | 00h34 - Atualizada em: 30.09.2023 | 01h41
Foto do colunista em frente a uma parede de museu.
Por Lucca Cantisano
Foto promocional da banda

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Mundo Itapema

A cantora falou com a Itapema sobre o processo do novo álbum, a relação com a banda e até sobre Gal Costa.

O décimo terceiro disco da banda formada pela vocalista e pelos gêmeos Amadeo e Simone Pace, "Sit Down for Dinner", saiu hoje e nós falamos com a vocalista Kazu sobre o processo de oito anos de composição do álbum, a COVID e música brasileira.

Confira a entrevista na íntegra:

Como você está se sentindo com o lançamento do disco?

“É estranho… Está para sair há tanto tempo e nós esperamos tanto para sair e sabe, de repente está realmente saindo e eu não estou pronta.”

Eu sei que tem trabalhado nesse disco há muito tempo, e sei que trabalhou nele durante a COVID, e quando eu o escutei eu senti certa melancolia. Queria saber como foi o processo de trabalhar nesse álbum e de que forma, se é que foi o caso, a COVID afetou esse processo.

“Eu receio que sim, afetou. Acredito que há lados positivos e negativos, mas começando com os positivos, de repente nós ganhamos quase tempo infinito para trabalhar nas músicas. Eu estava meio exilada porque, sabe, eu tenho pulmões ruins e tenho asma, então eu voltei para Nova Iorque no início da pandemia, e a cidade já estava um caos, as pessoas morrendo de forma rápida. Então meu colega de banda me levou para o norte do estado onde alugamos uma casa no meio do nada de fevereiro a julho. Nós nos mudamos umas quatro vezes e sempre escolhemos uma casa com um piano dentro para que eu pudesse trabalhar nas músicas, e foi isso que aconteceu. Esse é o lado positivo, eu acho. O lado negativo é que… Bem, antes eu estava vivendo na Itália. Eu nunca havia sido tão feliz quanto fui morando numa ilha, então ter que sair de maneira forçada foi doloroso. O ambiente foi difícil. Todos os meus planos se esvaíram, não havia mais planos, o plano imediato era só não adoecer. E acho que esse é o lado ruim.”

Você falou da Itália, eu sei que gravou o disco entre Nova Iorque e a Itália, e eu gostaria de saber de que maneira você acha que o local, ou o senso de localidade, influenciou a composição do álbum.

“Era devagar quando nos encontrávamos na Toscana… Nós trabalhávamos, claro, e algumas coisas que fizemos nós mantivemos, porque eram muito boas, mas o ritmo era lento. Uma vez que voltei para Nova Iorque e não tinha o que fazer eu entrei basicamente num modo turbo, sabe? Comecei a escrever músicas inteiras bem rápido e isso foi algo notável. Eu tenho essa teoria de que quando você vive num lugar muito lindo ou com uma história muito antiga eu acho um pouco mais… Não difícil, mas parece que não faz diferença se você faz música ou não, tudo está completo sem seu trabalho, isso eu sinto quando estou num lugar muito lindo. Parece que você não tem razões o suficiente para ficar frustrado e deixar o que quer que seja se soltar, sua frustração ou algo assim. Música é algo que eu uso para me esconder desde que eu era pequena e quando você está num lugar ensolarado com praias você não quer se esconder, e isso é um problema. Minha teoria não funciona na verdade, porque olha, você está no Brasil, um dos lugares mais lindos do mundo, e saiu daí tanta música linda.”

Falando no Brasil, eu li que a música “Snowman” foi inspirada por música brasileira, eu queria saber então quais as suas principais referências e inspirações da música brasileira.

“Neste álbum ou em geral? Porque eu vivi com uma pessoa que teve uma influência muito grande em mim musicalmente, e ele me levou para o Brasil e passei um tempo com pessoas como Caetano, Gal, eu fui assistir artistas gigantes como Chico, Jorge Ben, Gilberto Gil e todos eles me cumprimentavam só porque eu eu era amiga de pessoas que eles confiavam. Então sim, eu tive uma conexão muito profunda com a cultura musical brasileira. O que eu realmente amo sobre artistas brasileiros é o quão leves, o quão fluidos eles são. Gal soa literalmente como um pássaro. Me encanta que você não precise ser tão ruidoso o tempo todo, sabe? Todas as pessoas que eu realmente amei no Brasil cantavam de forma tão suave, e eu amei isso.”

Desde o primeiro álbum, vocês já atravessaram diversos gêneros musicais, mas as principais influências no seu som mudaram bastante desde esse primeiro disco, principalmente porque vocês tinham muita influência do noise rock. Como você acha que essa mudança é representativa de você como pessoa?

“Só andando pela vida você mal percebe que está mudando, sabe? Mas felizmente tenho a música para que eu possa perceber que eu estou mudando, mas vem de uma forma muito inconsciente. É quase como se eu nem me reconhecesse. É quase como se eu gostasse muito de uma certa comida e um dia eu acordasse e pensasse “O que é isso?”, sabe? Mas dito isso, quando eu ouço os antigos álbuns eu acho super atuais mas ao mesmo tempo eu penso “Sobre o que eu estava tão irritada?”. Eu acho que é a mesma coisa mas agora sai de uma forma um pouco diferente, tem uma roupagem diferente. A sua personalidade e seu âmago eu não sei se mudam de verdade.”

"Sit Down for Dinner" está disponível em todas as plataformas.

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