Galerias de arte do Brasil são as que mais demitiram com a pandemia, mostra estudo

01.10.2020 | 14h00 - Atualizada em: 09.10.2020 | 16h54
Marina Martini Lopes
Por Marina Martini Lopes
Editora
A pandemia de coronavírus afetou severamente o mercado de arte no primeiro semestre deste ano

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Como vários outros setores da economia, o comércio de arte migrou em peso para o digital

Como era de se imaginar, a pandemia de coronavírus afetou severamente o mercado de arte no primeiro semestre deste ano. As vendas das galerias que vendem obras de arte moderna e contemporânea diminuíram 36% em relação ao mesmo período do ano passado, um resultado direto do fechamento dos espaços físicos devido às medidas de distanciamento social. Além disso, um terço desses estabelecimentos diminuiu de tamanho, sendo forçado a demitir em média quatro funcionários, metade dos quais contratado em turno integral. Globalmente, o Brasil foi o país mais afetado - por aqui, a média de cortes foi de oito empregados nas galerias maiores.

Os resultados são de uma pesquisa recém-divulgada, feita pelo banco UBS em parceria com a economista cultural Claire McAndrew e com a feira Art Basel, que analisou 795 galerias pequenas, médias e grandes em 60 países ao redor do mundo, entre 1º de janeiro e 1º de julho. O estudo "O Impacto da Covid-19 no Setor de Galerias" também enxerga um cenário turvo pela frente -só 21% dos galeristas esperam um aumento das vendas no segundo semestre deste ano. "As galerias como um todo estão numa indústria particularmente vulnerável, dependente de eventos, de viagens e relacionadas a gastos não essenciais", disse McAndrew na transmissão que apresentou os resultados da pesquisa. Esse cenário foi radicalmente alterado com o fechamento temporário dos espaços físicos das galerias e a impossibilidade de viajar, devido às medidas de isolamento social tomadas para conter a disseminação do coronavírus.

Assim como vários outros setores da economia, o comércio de arte migrou em peso para o digital - as vendas por este meio foram de 10% do total no primeiro semestre de 2019 para 37% no mesmo período deste ano, informa a pesquisa. A tendência de agora em diante é um cenário misto, com as compras acontecendo tanto nos espaços físicos das galerias e nas feiras quanto no online, aponta o estudo. Por aqui, a primeira feira a experimentar este formato será a ArtRio, que acontece presencialmente no Rio de Janeiro e online entre 14 e 18 de outubro.

Com a crise sanitária, a prioridade das galerias mudou, aponta o estudo -se, no ano passado, 79% das casas diziam que tinham como meta principal participar de feiras de arte presenciais, em 2020 76% põem o aumento de vendas e exposições online como o objetivo número um -percentual que cai pouco e se mantém em 68% nos próximos dois anos. Aqui se destacam o investimento no "storytelling" dos artistas nas rede sociais e a aposta nas salas virtuais de exibição de obras, como as criadas pelas feiras SP-Arte e Latitude.

Cerca de 40% dos compradores visualizaram como um quadro fica na parede em uma dessas salas virtuais, diz a pesquisa. As OVRs ("online viewing rooms") e as vendas online trouxeram a reboque a política de transparência de preços, expostos claramente ao lado das informações técnicas de uma obra - o que nem sempre acontece em galerias e feiras tradicionais. O estudo aponta que 81% dos compradores aprovaram ver os valores das obras sem ter que perguntar a um agente.

"Gostemos ou não, as pessoas têm orçamentos, e isso as ajuda a focar os artistas que podem comprar", afirma McAndrew. Segundo ela, o debate ao redor da transparência de preços vem se acentuado nos últimos anos, seja no comércio offline ou online, e o atual momento pode impulsionar essa mudança de atitude. Do lado das galerias, a economista relata ter ouvido que mostrar os preços facilitou o trabalho dos marchands.

O achado insuspeito da pesquisa diz respeito aos novos colecionadores - pouco mais de um quarto das obras vendidas online foram para compradores que nunca antes tinham tido quaisquer contatos com as galerias onde gastaram. Este consumidor foi especialmente importante para as casas menores, de faturamento até US$ 250 mil anuais, ou cerca de R$ 1,4 milhão, representando 35% das obras comercializadas por estes estabelecimentos.

Mesmo com o boom do online, a pesquisa também descobriu que a maioria dos colecionadores - 70% - quer ver a obra no mundo real antes de comprar, uma tendência observada na primeira edição virtual da SP-Arte, em agosto. Conversar com artistas e galerisats enquanto se examina a dimensão dos trabalhos, suas cores e atributos físicos ainda parece ser intraduzível para o ambiente digital.

*por João Perassolo

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