"Coringa" surpreende e vence o Leão de Ouro no Festival de Veneza

09.09.2019 | 17h45
Anna Rios
Por Anna Rios
Interpretação de Joaquin Phoenix como Coringa arrancou elogios da crítica

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Por GaúchaZH

 Há anos não se via uma premiação no Festival de Veneza tão inusitada. Em todas as categorias, o júri comandado pela argentina Lucrecia Martel optou por filmes pouco óbvios, deixando boquiaberto o público na sala onde os prêmios foram entregues, na noite de sábado.

Ao começar pelo Leão de Ouro para o excelente Coringa, do americano Todd Phillips. Um longa sobre um personagem de quadrinhos não parecia uma escolha provável para o troféu, mas a obra certamente conquistou os jurados ao evitar a fórmula de blockbusters de super-heróis, optando pela ênfase na composição do universo mental do protagonista. Mostra como um sujeito esmagado por um mundo capitalista selvagem se tornou um dos vilões mais espertos do universo das HQs.

—Não haveria esse filme sem Joaquin Phoenix, o mais corajoso e de mente mais aberta dos atores —, disse Phillips, ao receber o Leão. Com o reconhecimento, Coringa dispara na frente na corrida pelo Oscar do ano que vem.

Ainda mais surpreendente foi o Grande Prêmio do Júri, para o formidável J'Accuse, de Roman Polanski. A surpresa se deu porque Martel havia reclamado da presença do diretor entre os concorrentes, a ponto de se recusar a ir à sessão de gala do longa - Polanski ainda hoje enfrenta resistência por ter estuprado uma adolescente na década de 1970.

Ao revisitar o caso Dreyfus, sobre um militar judeu acusado injustamente de trair a França, Polanski também fala de si. Afinal, considera-se vítima de um linchamento público, como Dreyfus foi no século 19.

— Polanski quer agradecer aos produtores, atores e equipe técnica — disse secamente Emmanuelle Séigner, mulher de Polanski e atriz do filme. Houve protestos, mas os aplausos foram mais imponentes.

Com Coringa fora da disputa de melhor ator (os júris costumam evitar mais de um prêmio a um mesmo filme), o eficiente ator italiano Luca Marinelli, de Martin Eden, foi beneficiado. No longa de Pietro Marcello, ele vive um homem sem cultura que luta para realizar o sonho de se tornar um escritor.

Em um ano fraco de papeis femininos, o prêmio de melhor atriz também surpreendeu: ganhou a francesa Ariane Ascaride, por Gloria Mundi, de seu marido Robert Guédiguian. É um claro troféu pela bela carreira da francesa, até porque seu papel é coadjuvante - ela interpreta o antigo amor de um ex-presidiário.

O melhor diretor foi o sueco Roy Andersson, por About Endlessness --troféu desnecessário, já que o filme é bem parecido com Um Pombo Pousou num Galho Refletindo Sobre a Existência, Leão de Ouro em 2014.

O documentário cômico La Mafia Non È Piu Quella di una Volta, do italiano Franco Maresco, sobre a relação dos sicilianos com grupos mafiosos, levou o Prêmio Especial do Júri. E a insólita animação N. 7, Cherry Lane, do chinês Yonfan, foi agraciada com o prêmio de melhor roteiro, sobre um rapaz dividido entre uma mulher mais velha e sua filha.

As escolhas inusitadas do júri chacoalharam o marasmo desta edição de Veneza, que veio com filmes pouco inovadores. Houve um excesso de tramas rocambolescas e faltou preocupação com temas mais atuais, como empoderamento feminino e de personagens LGBT+. O tema da empatia até apareceu, mas os protagonistas em geral eram homens, brancos e heterossexuais.

Apesar da pouca presença, o Brasil se saiu bem no evento. Única diretora nacional com um longa no Lido, Bárbara Paz ganhou o prêmio da mostra Venezia Classici, dedicada a filmes sobre cinema. Em Babenco: Alguém Precisa Ouvir o Coração e Dizer: Parou, mostra os últimos anos do diretor Hector Babenco, seu companheiro, em uma homenagem a sua sede de vida e de criação.

— Este prêmio é muito importante para o meu país. Precisamos dizer não à censura — disse Paz, ao receber o prêmio, alfinetando Jair Bolsonaro e sua tentativa de criar um "filtro" para escolher filmes que receberão recursos públicos.

E na mostra em Realidade Viirtual,  A Linha, de Ricardo Laganaro, ganhou o prêmio de melhor história. Rodrigo Santoro narra a trama de um menino tímido que se apaixona por uma jovem, na São Paulo dos anos 1940.

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