Madonna: "Vogue" completa 30 anos

06.04.2020 | 12h04 - Atualizada em: 10.04.2020 | 13h33
Leonardo Souza
Por Leonardo Souza
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Giramundo

Para comemorar o 30° aniversário da icônica "Vogue", a rainha do pop compartilhou vídeos e remixes da música no youtube de presente para os fãs. Vamos rever alguns desses vídeos e comentar a trajetória de um de seus maiores hits.

Poucas músicas resistem ao teste do tempo e apenas uma fração delas se torna tão arraigada na cultura popular que você não pode imaginar o mundo sem ela. "Vogue" é definitivamente uma delas. Desde a brilhante produção em estúdio de Shep Pettibone ao poderoso videoclipe em preto e branco, todos os elementos de "Vogue" se encaixam perfeitamente no processo criativo de algo atemporal e revolucionário. 30 anos se passaram e a joia da discografia de Madonna brilha mais do que nunca.

M02Imagem:Divulgação

Lançado em março de 1990, o videoclipe de "Vogue" teve direção do renomado David Fincher, que antes de trabalhar em filmes como "Clube da Luta" e "A Rede Social", teve uma bem-sucedida experiência em videoclipes nos anos 1980 e 1990. Madonna e ele produziram o vídeo inspirados na década de 1930, uma homenagem aos antigos musicais de Hollywood. A surpresa era a nova dança do momento, Voguing, até então desconhecida do grande público.

Tendo a revista Vogue e as poses glamurosas de seus modelos como base, este estilo de dança surgiu nas festas chamadas "Ballrooms" no Harlem, em Nova York, popularizada por afro-americanos e latinos na década de 1980. Ao longo dos anos a dança evoluiu para um formato mais complexo e lúdico e então passou a ser chamada de "Vogue".

Era o início dos anos 1990 e para estar por dentro das novidades do cenário musical, quando ainda nem havia internet, existia a MTV. Naquela época, todas as emissoras da MTV do mundo sobreviviam de música, da cultura do videoclipe. Madonna, Prince e Michael Jackson, a santa trindade (ou realeza) do Pop, dominavam o canal com videoclipes inovadores de altos orçamentos. Com "Vogue", lançada no auge da MTV, Madonna levou a cultura marginalizada dos guetos para o centro da sala das famílias tradicionais e virou um fenômeno ao redor do mundo.

A primeira performance ao vivo de "Vogue" foi na revolucionária turnê "Blond Ambition", o famoso show dos sutiãs de cone criados por Jean Paul Gaultier, que rodou o planeta em 1990, tendo "Vogue" como o momento mais esperado do show. A música já era um sucesso internacional com cerca de dois milhões de singles vendidos pelo mundo, se tornando um hit em mais de 30 países.

O fim do ano de 1990 rendeu a coroação de "Vogue" na noite de premiação do Vídeo Music Awards da MTV. Madonna levou três prêmios pra casa e celebrou o final da turnê e o sucesso da música com uma apresentação antológica, ressignificando "Vogue" numa performance ao vivo com a imagem da última rainha da França, Maria Antonieta. A surpresa ficou por conta da coreografia, praticamente uma cena teatral.

Em 1993, rodeada por polêmicas devido ao álbum "Erótica" e todo seu conceito, Madonna pisou pela primeira vez no Brasil com a turnê "Girlie Show" e mais uma vez a artista apresentou uma nova releitura visual de "Vogue". Dessa vez, numa versão hinduísta inspirada na espiã Mata Hari, a cantora e suas backing vocals de longa data, Niki Haris e Donna DeLory, interpretaram uma cena de musical, com uma coreografia que lembra estátuas religiosas que inspiravam sexualidade. Tive o prazer de assistir pessoalmente no Maracanã, a poucos metros do palco, e posso garantir que foi de cair o queixo.

Dez anos depois Madonna voltou a incluir o hit no repertório do show, desta vez para abrir a turnê "Reinvention", o espetáculo mais introvertido e experimental de sua carreira. A Rainha do Pop estava com 46 anos e exibia um físico invejável. Em "Vogue", ela volta à persona de Maria Antonieta, só que agora de uma forma abstrata, desconstruída, executando passos de dança que nos remete a Idade Média, enquanto desce do trono e se mistura com a plebe. Uma entrada em cena espetacular.

De volta ao Brasil com a "Sticky & Sweet Tour", Madonna trouxe a turnê mais Pop de todas para os estádios e conseguiu repaginar a música. O que era antes um hino 'House', ganhou batida de Hip Hop. Com a artista cantando numa plataforma circular, "Vogue" destaca o entrosamento coreográfico de Madonna com os bailarinos, uma das marcas da cantora.

Ancorada em aparato hi-tech que projeta vídeos e efeitos de fato especiais, a turnê manteve Madonna soberana no trono pop. Pode não ter a sofisticação do "The Girlie Show", com sua atmosfera circense e burlesca, mas é um espetáculo de som, luzes e cores que reafirma a capacidade da rainha de fascinar seus súditos.

A série de 85 shows, realizados em 32 países, incluindo o Brasil, arrecadou mais de 400 milhões de dólares, tornando-se a turnê feminina mais lucrativa da história, recorde mantido até hoje.

Em 2012 Madonna se preparava para o lançamento do álbum "MDNA" e pra isso resolveu se apresentar no intervalo do Super Bowl, o jogo final do campeonato da NFL (National Football League), a principal liga de futebol americano dos Estados Unidos, um dos eventos mais assistidos do planeta.

No trono, evocando a imagem de Cleópatra, ela surge cantando "Vogue", carregada por 75 gladiadores. A nova versão misturou sons de espada à batida House original e movimentos hipnotizantes. Com projeções adaptadas em tapetes ao redor do palco, imagens surgiam no chão do gramado do estádio homenageando as figuras de Hollywood citadas em "Vogue", de Marlon Brando a Betty Davis. Mas é claro que o rosto de Madonna reinava mais do que os outros. O pocket show bateu o recorde do famoso intervalo musical com 114 milhões de espectadores somente nos Estados Unidos.

Madonna visitou o Brasil pela terceira vez com o show "MDNA", turnê que passou por diversos países em 2012. Um espetáculo teatral, complexo e repleto de projeções. Em "Vogue", que abriu o terceiro bloco do show, um cabaré futurista surgiu em cena, onde gêneros se misturavam num desfile monocromático com figurinos assinados por Jean Paul Gaultier, novamente, lembrando a essência do videoclipe original.

Uma curiosidade sobre "Vogue": Você sabia que a música não seria lançada como single? Ela seria um B-side de "Keep it Together", o último single extraído do álbum "Like a Prayer". Mas a gravadora gostou tanto que acabou lançando a música no álbum menos conhecido do grande público, "I'm Breathless". Trabalho inspirado na personagem de Madonna no filme "Dick Tracy" e na trilha sonora do longa - o disco jazzy da Rainha do Pop.

Em 2015, Madonna estava preparando o lançamento de "Rebel Heart" e o álbum vazou na internet meses antes. Mesmo numa época complicada em sua carreira, ela decide sair em turnê e apresentar "Vogue" mais uma vez de uma forma inimaginável. Na música "Holy Water", após fazer pole dance numa cruz, ela recita trechos de "Vogue" enquanto são projetadas no telão imagens dos apóstolos de Cristo. Uma das teorias explica que muitos líderes religiosos utilizam da fé para satisfazerem seus egos. Por isso ela ironizou mostrando imagens de seguidores da fé como artistas de Hollywood.

No lançamento do mais recente trabalho de Madonna, o álbum "Madame X", ela apresentou "Vogue" na Parada Gay de Nova York revelando para o público presente, a nova releitura preparada para a turnê de 2020. O espetáculo foi apresentado apenas em teatros, com celulares lacrados até o fim do show, e rodou por poucos países até ser cancelada em função da pandemia de corona vírus. Desta vez em "Vogue" ela é uma espiã, inspirada por filmes noir, um dos temas do show.

"Vogue" pode proporcionar diversas sensações ao ouvinte, como liberdade ou fashionismo. A música envelheceu sendo renovada ao longo destes 30 anos em parte para provar que resistiu ao teste do tempo pertencendo a cultura popular, uma daquelas que você não pode imaginar o mundo sem ela. Alguma semelhança com sua criadora?

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