Milton Nascimento e Criolo dão ar etéreo a "Cais", clássico de 1972

18.05.2020 | 18h54 - Atualizada em: 19.05.2020 | 14h36
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Milton Nascimento e Criolo

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O EP lançado em parceria pelos músicos se chama "Existe Amor", em referência ao maior hit de Criolo, "Não Existe Amor em SP"

Milton Nascimento e Criolo juntaram forças e lançaram um EP com quatro canções cantadas em conjunto, nenhuma delas inédita. O disco chama "Existe Amor", em referência ao maior hit de Criolo, "Não Existe Amor em SP", a terceira música do novo álbum. O trabalho foi gravado há um ano e meio e está disponível nas plataformas de streaming.

A primeira é "Cais", lançada por Milton em 1972, no famosos LP "Clube da Esquina". A canção virou notícia em 2014, quando o inglês David Bowie lançou o single "Sue (Or in a Season of Crime)" e um crítico do jornal francês Le Monde a descreveu como parecida com "uma melodia muito conhecida dos amantes de música brasileira: 'Cais'".

Realmente, a melodia é idêntica. Peritos discordaram entre si, na época, sobre "Sue" ser um plágio ou não de "Cais". Seja como for, Bowie não foi acionado e regravou a canção para o álbum "Blackstar", de 2016. Talvez para se distanciar, o fez com uma instrumentação mais pesada e rock'n'roll do que no single.

Aqui, Milton e Criolo fazem o contrário. Transformam a música original de dois minutos e 45 segundos em um dueto de mais de seis minutos, deixando-a ainda mais etérea. Em vez do dedilhado do violão de cordas de aço, o piano virtuoso de Amaro Freitas faz o contraponto a cada verso.

A próxima é "Dez Anjos", parceria dos dois lançada por Gal Costa em 2015. Regida aqui pelo maestro Artur Verocai, é uma canção no estilo clássico de Milton Nascimento e poderia estar em qualquer um de seus discos dos anos 1970 ou 1980. A bela letra de Criolo usa diversos numerais e gírias para narrar a violência do país de forma bastante lírica, como no trecho "Sete chaves para abrir/ Sete portas, meu irmão/ Odisséia sem Uli/ Biqueira, viela e pão".

O pianista Amaro Freitas volta em "Não Existe Amor em SP", que começa sendo cantada por Milton e segue com Criolo. A versão tem quase seis minutos e perde a força urbana e a aura de rap melódico que a versão original tinha em 2011. Em vez disso, busca uma roupagem mais acadêmica e tradicional, talvez mais elitizada, própria para salões ou jantares da alta roda que a letra possivelmente critica em trechos como "A ganância vibra, a vaidade excita/Devolva minha vida e morra".

Por fim, Artur Verocai coloca sua orquestra a favor do soul setentista em "O Tambor", canção que o maestro já havia gravado, com participação especial do próprio Criolo, em seu álbum de 2016. É a única música dançante e para cima, trazendo uma alegria em meio à desesperança geral do EP. "Chega de ser, de sofrer, de chorar/Mastigar toda desgraça com pão", começa Criolo, para terminar em ritmo de festa, junto com Milton, com "Hoje o tambor vai se rebelar/Onde isso vai dar?".

*por Ivan Finotti

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