"Os Últimos Czares": por que a série da Netflix virou assunto e motivo de críticas

21.07.2019 | 13h05 - Atualizada em: 22.07.2019 | 10h52
Anna Rios
Por Anna Rios
Série retrata a vida e a queda de Nicolau II (Robert Jack), desde a coroação até sua execução, encerrando a dinastia dos Romanov

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Mesmo trazendo erros históricos, produção é elogiada por usuários

Por GaúchaZH

Seriados que retratam períodos históricos a partir de famílias tradicionais, sobretudo de dentro de grandes palácios, ganham facilmente o coração do público. Além disso, a fidelidade com a realidade — em termos de produção e de atuação do elenco - é um dos pontos que está garantindo audiência extra a mais uma delas: Os Últimos Czares, série que estreou no início de julho na Netflix.

Com seis episódios, ela retrata a vida e a queda de Nicolau II, o último czar russo, desde sua coração, em 1894, até a execução, em 1918, encerrando a dinastia dos Romanov. Nos primeiros episódios, a produção mostra o casamento dele com Alexandra, passando pela tentativa de terem um filho homem para herdar a coroa — o menino, o quinto dos filhos, porém, sofre de hemofilia — e pela relação da czarina com o místico Rasputin. Nos capítulos seguintes, retrata como, após a revolução russa de 1917 e a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), Nicolau teve de abdicar do cargo e, após um período de reclusão, toda a família acabaria executada.

Além de trazer trajes de época e os deslumbrantes palácios russos, Os Últimos Czares se preocupa em  contextualizar o período, adicionando cenas documentais e depoimentos de historiadores como Douglas Smith, que escreveu recentemente uma biografia sobre Rasputin e introduz o personagem no primeiro episódio:

— Rasputin é, provavelmente, uma das figuras mais emblemáticas do século 20. Seu passado é nebuloso e repleto de lendas.

Além dele, Simon Sebag Montefiore — pesquisador e autor do livro Os Romanovs — também presta seu depoimento sobre Alexandra e Nicolau. Assim, a produção ganha mais corpo em sua narrativa. 

Susanna Herbert, na foto, encara a missão de interpretar a imperatriz Alexandra (na cena com o filho, o menino Alexei)Foto: Divulgação

A parte técnica também foi trabalhada por nomes relevantes de Hollywood. A direção é de Adrian McDowall (vencedor do BAFTA de Melhor Curta-Metragem por Who's My Favourite Girl?) e Gareth Tunley (também indicado ao mesmo prêmio por The Ghoul, em 2016). 
 

No elenco, nomes de outros seriados marcam presença: Ben Cartwright (de Sherlock Holmes) atua como Rasputin; Duncan Pow (de Black Mirror) como Yakov Yurovsky; Oliver Dimsdale (o Príncipe de Gales no episódio de Natal de Downtown Abbey) como Pierre. Entre os protagonistas, Susanna Herbert encara a missão de interpretar a imperatriz Alexandra e Robert Jack (de Gary Tank Commander) aparece na pele de Nicolau II.

No Twitter, grande parte dos usuários elogia o tom mais documental e o fato de a história toda ser contatada em apenas seis episódios, o que facilita assistir tudo em maratona. "Indico a todos que gostam de séries de época e aulas de história juntas", escreveu uma pessoa. 

Historiadores questionam a aparição do Mausoléu de Lenin, construído em 1924, em cena ambientada em 1905Foto: Divulgação

Erros para os russos (não) verem

Enquanto os espectadores do Ocidente veem com bons olhos a produção da Netflix, a audiência russa manifestou insatisfação. Em alguns casos, riem com a falta de cuidados em detalhes históricos e até da "americanização" do produto final. 

Uma das primeiras críticas se refere à romantização do enredo e das cenas. Quando os historiadores explicam contextos em seus depoimentos, os atores da série interpretam o que ele quer dizer. Além disso, os diálogos são leves e deixam tudo muito amoroso. Os russos viram isso com sarcasmo, já que a cultura local e o tratamento entre as pessoas costumam ser mais frios e ríspidos.

Quando os primeiros teasers foram lançados, outra gafe foi alvo de reclamações. Uma das cenas ambientadas em 1905, filmadas na Praça Vermelha em Moscou, mostra o Mausoléu de Lenin, construído só em 1924. Os eventos da série se passam até 1918, ou seja, pelo menos seis anos antes da construção do monumento. 

Outra questão é um desvio de nomenclatura. Há na série as "princesas negras", termo que não existiu no período e tampouco foi utilizado posteriormente por  historiadores. A crítica é que os autores parecem ter confundido a palavra russa “tchernie” (preta) com “tchernogorskie” (servo-croata).   

Por fim, a próprio nome do seriado irritou os locais: o uso da palavra czar no título em inglês para designar o imperador é questionada, já que os russos comumente utilizam o termo "tsar", que também é usado por dicionários britânicos.

The Guardian foi um dos jornais que defendeu os russos em sua crítica:
"Quem é o público-alvo? Pessoas que nunca ouviram falar de Rasputin? Pessoas que nunca ouviram falar da Rússia? Se é isso que eles queriam fazer, que fizessem um Game of Thronesimperial russo - e tornassem isso sangrento e incrivelmente emocionante", diz um trecho do texto.

Assista ao trailer de "Os Últimos Czares"

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