Universo Guará quer ser resposta brasileira à DC e à Marvel

11.07.2019 | 17h40 - Atualizada em: 11.07.2019 | 17h38
Anna Rios
Por Anna Rios
Caçador de políticos corruptos, O Doutrinador foi o primeiro personagem do universo ficcional da Guará Entretenimento

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O Doutrinador, Pérola, Santo e Os Desviantes são os super-heróis já lançados por editora carioca

Por GaúchaZH

Os personagens da DC e da Marvel dominam amplamente o mercado nacional de gibis de super-herói, mas uma editora do Rio de Janeiro está querendo comprar briga com os americanos. Tal qual os irredutíveis gauleses das aventuras de Asterix, a Guará Entretenimento surge como resistência.

As armas são claras: conceitos já enfronhados no imaginário do leitor são retrabalhados sob uma ótica que enfatiza mazelas brasileiras. Como acontece na DC e na Marvel, as histórias estão interligadas – personagens de uma HQ aparecem em outra –, criando um universo ficcional. Em paralelo, também a exemplo do que fazem as duas empresas dos Estados Unidos, o Universo Guará expande-se para o meio audiovisual, em um processo de consolidação.

— Nossos protagonistas são urbanos, problemáticos, anti-heróis. O slogan é direto: nossas cidades, nossos problemas, nossos heróis — diz Luciano Cunha, 46 anos, criador e editor do Universo Guará ao lado de Gabriel Wainer (que é roteirista, já foi ator de Malhação e é neto dos jornalistas Samuel Wainer e Danuza Leão). — Temos 12 personagens já registrados e outros em desenvolvimento. Todos têm links entre seus arcos dramáticos e conversam entre si em suas aventuras. Todas as HQs já são pensadas para se transformar em outros produtos. Somos uma editora multiplataforma. Conversamos com players que atuam no consumo geek, desde produtoras de cinema e canais de streaming a designers de games e boardgames (leia uma entrevista completa logo abaixo).

Edição especial (Redbox, R$ 69,90) reúne três HQs e extras ligados à adaptação cinematográficaFoto: Divulgação

O carro chefe é O Doutrinador, uma espécie de Justiceiro brasileiro, mas sem o desenvolvimento psicológico do anti-herói da Marvel e com a mira voltada exclusivamente para a corrupção política. “Supersoldado em um país sem guerras”, o personagem, conta Cunha, nasceu em 2008, com o nome de Vigilante, quando seu autor trabalhava em uma agência de publicidade. Foi engavetado duas vezes até que, em abril de 2013, já rebatizado, apareceu no Facebook. 

A realidade ajudou a ficção: as manifestações de junho daquele ano criaram o caldo para a popularização do Doutrinador, um homem sem clemência para governantes que desviam dinheiro, deputados associados com o crime e toda sorte de agentes públicos que lesam o país em benefício próprio. Cunha não dá nome aos bois, mas, por exemplo, desenhou o presidente Barros, ex-líder sindicalista nos anos 1970, com as feições de Lula. 

O matador de corruptos acabou chegando ao cinema. Lançado em 2018, dirigido por Gustavo Bonafé e estrelado por Kiko Pissolato e Tainá Mendonça, o filme atraiu 253 mil espectadores. Um livro de capa dura, editado pela Redbox, compila as três primeiras HQs (uma delas, com argumento de Marcelo Yuka, um dos fundadores da banda O Rappa) e reúne muitos extras, como textos do quadrinista, desenhos de outros artistas, making of e fotos do longa-metragem.

Tráfico de crianças e ataques a religiões afro

O paranormal Santo investiga ataques a centros de umbanda no Rio de JaneiroFoto: Divulgação

Parceria de Gabriel Wainer com Rafa Kraus (roteiro) e Juliano Henrique (arte), Os Desviantes é o projeto de superequipe. Em um Brasil futurista dividido entre a Fortaleza, que congrega as castas privilegiadas, e a Resistência – a periferia –, juntam-se Fióti, um egresso das comunidades cariocas, Tom, uma espécie de ciborgue, e a indígena Anita. 

"Santo", de Luciano Cunha, Gabriel Wainer e Mikhael Raio Solar, custa R$ 10Foto: Divulgação

Pérola, escrita por Wainer e Kika Hamoui e ilustrada por Péricles Júnior, é uma história barra-pesada sobre uma mulher que, depois de matar seu padrasto abusador, passa a se prostituir para garantir o futuro da irmã caçula, Belinha. Ela vai se envolver com políticos e com traficantes de crianças, em uma trama que recorre a alguns clichês e que, por vezes, é  confusa na narrativa visual. 

O gibi mais empolgante e mais promissor retrata as aventuras de outro herói solitário - ou nem tanto assim. Com roteiro de Cunha e Wainer e desenhos de Mikhael Raio Solar, Santo é a versão brasileira deJohn Constantine, o célebre personagem da DC que lida com o oculto e com demônios. Salvador Sales é um professor que recusa sua mediunidade. Mas ele deverá colocar seus poderes paranormais em prática depois de um brutal ataque a um centro de umbanda do Rio de Janeiro – notícia frequente no Estado. Tendo a seu “lado” o espírito do Irmão X, seu interlocutor nos momentos de reflexão, ele descobre a conexão entre um pastor evangélico e político influente com uma sociedade secreta, o Círculo Vril, que mistura arianismo e magia negra. Nitroglicerina pura, muito bem ilustrada – destaque também para as cores sóbrias de Alzir Alves.

Onde comprar

  • Os gibis estão à venda no site lojadouniverso.com.br, a R$ 10 (mais frete). O Doutrinador está disponível só na versão PDF (R$ 5). O site loja.redboxeditora.com.brtem a edição especial, por R$ 69,90. 
  • Em bancas, por enquanto, as HQs só podem ser encontradas em alguns pontos do Rio. Mas há negociações para distribuir em mais Estados.

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