Vida e obra de Luiz Melodia são examinadas em "Meu Nome é Ébano"

31.08.2020 | 19h30
Folhapress
Por Folhapress
Luiz Melodia

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A biografia é assinada pelo jornalista Toninho Vaz

"Meu Nome é Ébano: A Vida e a Obra de Luiz Melodia" faz jus ao subtítulo. A biografia escrita pelo jornalista Toninho Vaz detalha os passos pessoais e profissionais dados pelo artista. Mas não é um livro apaixonante. Não se sabe se só por escolhas de estilo ou, também, pelos cuidados que costumam cercar uma biografia autorizada (a viúva, Jane Reis, detém parte dos direitos sobre a obra), o livro não vibra enquanto busca retratar a complexidade e a originalidade do compositor de "Pérola Negra".

Estas ficam, em grande parte, a cargo de exaltações redundantes e superficiais. Algumas opiniões abalizadas se salvam, como as de Jards Macalé e de Waly Salomão. Há longas citações de reportagens, o que reforça a sensação de catálogo. Há a preocupação de se recordar os contextos político e musical dos anos abordados, mesmo que sem relação direta com o biografado. E há respeito em excesso à participação dos entrevistados, deixando comentários desnecessários.

Em dez dos 15 capítulos, a relevância ganha da redundância. Estão neles, por exemplo, que o pai rigoroso não queria o filho envolvido com música. Curiosamente, Oswaldo Melodia ganhou esse apelido por ser violonista e compositor diletante. Luiz Carlos dos Santos, nascido em 1951, herdou o sobrenome artístico. De família moradora do morro de São Carlos, na zona norte carioca, Melodia precisou trabalhar para ajudar na casa. Foi vendedor, tipógrafo e atendente no bar de uma academia de halterofilismo. Não conseguiu completar o que é hoje o ensino fundamental. Tudo isso é bem registrado.

Figura carismática, Rose do Estácio foi quem falou do jovem Melodia a Waly Salomão, que compartilhou a informação com Hélio Oiticica, Torquato Neto e outros. O carioca fascinou a turma. Daí chegou a Gal Costa, que lançou "Pérola Negra" em 1971, e a Maria Bethânia, que gravou "Estácio Holly Estácio" em 1972. Quando saiu o instantaneamente histórico LP "Pérola Negra", em 1973, Melodia já era um sucesso para além dos artistas de vanguarda. Vaz recorda um interessante relato do biografado - uma moça de apelido Deda foi a musa de três marcantes faixas do disco, "Magrelinha", "Vale Quanto Pesa" e "Farrapo Humano".

O jornalista aponta como, na década de 1970, Melodia viveu em meio a sexo, drogas e rock'n'roll (misturado com samba, reggae e tudo o que sua mente aberta captasse). De acordo com o livro, foi a baiana Jane Reis, um amor que durou 40 anos, quem começou a organizar sua vida profissional. Mas Melodia nunca deixou de ser boêmio feroz. Passou por clínicas de desintoxicação e desenvolveu, por excesso de álcool, uma lesão hepática. Soube desse quadro em julho de 2016, quando recebeu um diagnóstico de câncer na medula. Morreu em 4 de agosto de 2017. Teve dois filhos.

Meu Nome É Ébano - A Vida e a Obra de Luiz Melodia

Autor: Toninho Vaz.

Ed: Tordesilhas

R$ 55 (336 págs)

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