Vieux Farka Touré recebe o trio Khruangbin em álbum tributo ao pai

26.09.2022 | 12h17 - Atualizada em: 30.09.2022 | 13h14
Leonardo Souza
Por Leonardo Souza
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Giramundo

O músico do Mali revisita a obra do pai enquanto conduz o trio do Texas em arranjos completamente novos.

Conhecido como o maior guitarrista do Mali, Ali Farka Touré se afastou da música em 2000, retirando-se para a aldeia em que nasceu, na região semidesértica de Niafunke, para descansar e cultivar arroz em sua fazenda e viver junto à comunidade. Quatro anos depois foi eleito prefeito das 53 aldeias de Niafunke e investiu a maior parte dos royalties musicais em um esquema de irrigação. Na terra natal, Ali Farka Touré era considerado um herói nacional; tanto que quando morreu em 2006, as estações de rádio do Mali suspenderam a programação normal para tocar a obra do músico em sua homenagem. O público ocidental o conhecia pelas colaborações vencedoras do Grammy com Ry Cooder e Toumani Diabaté.

VFT14Imagem: divulgação

Ali Farka Touré é um dos guitarristas mais influentes e talentosos que a África já produziu. Se tornou lendário, muito pela sonoridade que criou ao fundir estilos musicais tradicionais malianos com elementos do blues enquanto cantava em diferentes línguas e dialetos.

Agora, no álbum "Ali", novos ouvintes têm a chance de conhecer a obra do artista de forma mais moderna, graças à colaboração inovadora entre seu filho e o trio texano Khruangbin. Vieux Farka Touré herdou o fraseado de guitarra expressivo do pai; enquanto os três músicos do Khruangbin são conhecidos por fundir elementos de soul e blues com uma mistura global temperada por dub, funk tailandês, cumbia e flamenco.

Após assistir ao show do trio texano em um pub em Londres e de convidar os Khruangbin para o projeto, Vieux se encontrou com eles para as sessões de estúdio, realizadas em um home studio situado na zona rural do Texas. As músicas do álbum foram escolhidas a dedo pelos 11 filhos de Ali, desde faixas famosas como 'Diarabi', até músicas mais obscuras como 'Alakarra'.

O artista estava diante de dois desafios. Além de revisitar a obra do pai, enquanto conduzia o trio do Texas em arranjos completamente novos, Vieux estava disponível para as gravações apenas por uma semana. A estratégia do músico do Mali foi aproveitar o tempo sem dizer ao trio o que eles tocariam antes que a fita começasse a rodar.

"Vieux não nos deu nenhum contexto", disse o baterista Donald "DJ" Johnson em comunicado. "Ele queria que entrássemos com uma nova perspectiva, então ficamos às cegas e gravamos oito músicas, com ele ensinando-as para nós, de certa forma. Nós nem sabíamos os nomes das músicas até quase terminarmos o projeto. Vieux queria que abordássemos isso com uma 'lousa em branco' e acho que essa foi a abordagem certa. Porque assim que você sabe o que é o original e todo o contexto, é mais fácil para o cérebro querer copiar ou tentar fazer o contrário."

Os destaques do trabalho são as músicas 'Savanne', faixa que abre e conceitua o álbum, e 'Diarabi', single que ganhou um vídeo filmado na capital do Mali, Bamako, cidade que oferece cores ricas e o cenário ideal como pano de fundo para o videoclipe. As faixas capturam o sentimento aventureiro do registro - dois testemunhos do que acontece quando a criatividade é abordada de braços e corações abertos. "Para mim, música é mágica, é espontânea, é a energia entre as pessoas", disse Vieux. "Acho que Khruangbin entendeu isso muito bem."

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