Greentea Peng: "Eu tento não fazer planos com prazos muito longos, porque planos falham"

18.12.2020 | 12h07 - Atualizada em: 18.12.2020 | 14h10
Por Marina Martini Lopes
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A cantora britânica lançou seu EP de estreia, "Sensi", em outubro de 2018

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Em entrevista à Itapema, a cantora britânica contou sobre o período que viveu na América do Sul e explicou o que é o seu "R&B psicodélico"

Greentea Peng atende a ligação do Zoom falando um "Olá, como está?", em português, mesmo - mas com um leve sotaque espanhol...? Seguimos a conversa em inglês, mas, lá pelas tantas, ela revela que já morou na América do Sul por um bom tempo, e que inclusive foi por aqui que retomou o gosto pelo canto - e que também está tentando aprender português.

A cantora britânica lançou seu EP de estreia, Sensi, em outubro de 2018, e vem chamando atenção no mundo da música pela mistura de estilos e influências presentes em seu trabalho - que ela mesma chama de "R&B psicodélico". "Eu chamo assim porque todo mundo diz que eu sou uma cantora de R&B, e eu não necessariamente concordo", ela explica, em tom de dúvida. "E eu sempre tomo chá de cogumelos, então adiciono o termo 'psicodélico' para ficar mais com a minha cara. (risos) É um R&B um pouco mais... Viagem."

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"Acho que eu sou uma artista mais de hip-hop do que de R&B", ela tenta definir, para logo em seguida parecer incerta de novo. "Talvez", emenda, rindo. "Minhas influências musicais variam de Black Sabbath e The Clash a Bob Marley e Lauryn Hill. Muita coisa diferente, na verdade."

"Greentea", claro, significa "chá verde" - e "peng" é uma gíria londrina para algo saboroso, ou então uma pessoa atraente. "Sim, eu amo chá verde", a artista concorda, rindo. "Eu tive essa ideia quando tinha uns 18 anos e estava no Peru. Eu encontrei uma caixa maravilhosa de chá verde numa loja. Eu estava super chapada, e fiquei muito animada com essa caixa. Ela era linda! Na caixa estava escrito 'green tea seng', e eu imediatamente associei com 'peng', então comecei a chamar aquele chá de 'green tea peng'. Comecei a usar esse termo como assinatura, e, quando vi, estava super apegada a ele. Acho que é um termo que mostra dois lados meus: um lado mais suave, e um lado mais... Danadinho. (risos)"

Pergunto como Greentea veio parar na América do Sul aos 18 anos de idade. "Desde criança eu tinha uma ideia meio romântica sobre a América Latina, a América do Sul... Então, quando era adolescente, eu fui ao Peru, e me apaixonei", ela narra. "Depois, eu fui à Califórnia, e lá conheci muitas pessoas que falavam sobre o México, e fiquei muito curiosa para conhecer. Então fui ao México, e acabei passando quase dois anos lá, com meu namorado da época. E nós não tínhamos nada de dinheiro... Foi uma aventura mesmo. Estávamos em um clima meio 'que se dane, o Universo proverá' (risos). Também fomos à Costa Rica, que eu também adorei. Nesse período de tempo eu trabalhei em vários lugares diferentes; em um hotel, em um estúdio de yoga..."

Foi exatamente nessa época que Greentea voltou a cantar, depois de alguns anos afastada da música: "Minha carreira começou cantando em bares no México", conta.

"Eu sei falar um pouco de espanhol, mas, quando você não pratica, o vocabulário começa a desaparecer", ela lamenta. "Eu estou tentando aprender português, na verdade. Eu não vejo a hora de ir ao Brasil! Eu devia ter ido em fevereiro deste ano, aliás, mas, claro, com o coronavírus, foi tudo cancelado. Mas eu estava muito animada. Eu amo saber que minha música está tocando em uma rádio brasileira. Acho incrível e fico muito agradecida ao saber que minha mensagem chegou tão longe. Muita gente do Brasil fala comigo no Instagram, e dá pra sentir a energia das pessoas, sabe? Eu já sei que vai ser ótimo quando eu puder tocar ao vivo no Brasil."

O mais novo single de Greentea Peng é Spells, lançada agora em dezembro. "O engraçado é que eu escrevi essa música há uns três anos", a cantora comenta. "Eu lancei essa música agora porque eu gosto de estrear alguma coisa nova no meu aniversário; mesmo que essa canção não tenha mais um tema tão relevante pra mim quanto tinha antes. Ela é sobre como às vezes você passa tanto tempo buscando aprovação e validação das outras pessoas, tentando impressionar e agradar todo mundo, tentando se encaixar. E, quando se sente em paz consigo mesmo, com quem você é, é como se você lançasse um feitiço ("spell", em inglês) no mundo e nos outros, seu próprio encantamento. Essa atitude tem poder."

"Eu escrevi essa música quando havia acabado de voltar do México para Londres", ela explica. "Eu havia mudado muito: minha mente, minhas perspectivas de vida haviam mudado; eu havia me tornado uma pessoa mais mente aberta, mais tranquila; havia voltado a cantar... Eu acho que Londres, assim como outras cidades grandes, é muito tensa: tudo é sobre ego, sobre competição. Eu sentia que no México as pessoas se preocupavam muito menos consigo mesmas, eram mais relaxadas, estavam mais no presente. Voltar foi meio que um choque."

Em entrevistas recentes, tenho perguntado a bandas e artistas quais planos eles têm para 2021 - principalmente depois que tanta coisa planejada para 2020 precisou ser repensada ou cancelada. Mas Greentea, fumando despreocupada um baseado enquanto conversa comigo, dá de ombros ao responder: "Eu tento não ter muitas expectativas sobre as coisas - é assim que eu vivo a vida. Tento não fazer planos com prazos muito longos, porque planos falham. Acho que até tudo bem ter expectativas, você só não pode se apegar a elas, a uma ideia do que acha que vai ou deve acontecer. Acho que este ano, especialmente, nos mostrou como tudo pode mudar de repente e desfazer tudo o que planejamos."

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